quinta-feira, 10 de maio de 2012

Breve metáfora... vidas secas


Quando era criança, morava em uma casa no interior do Mato Grosso com um grande quintal. Passava a maior parte do dia nele, junto com outras tantas crianças que apareciam por lá para brincar.
No quintal havia muitas árvores, eram pés de pitanga, de coco, manga, goiaba, laranja, acerola, e se houvesse mais espaço com certeza teríamos mais.
Minhas preferidas eram os pés de manga. Árvores grandes e boas para subir e descer. E, além disso, seu fruto era aguardado com tanta ansiedade que sua lembrança já dava água na boca.
Eram quatro no total, todas diferentes, manga rosa, borbom, coquinho, e uma em especial que nunca conhecemos seu fruto.
Essa última, era a mais mirrada, mais feia.
Meu pai tentava cuidar dela de várias formas, mexia na terra, aplicava inseticidas, regava. Tudo na esperança de que ela viesse enfim a produzir seu fruto, crescer e desenvolver-se.
Depois de tentar todas as possibilidades, meu pai decidiu cortá-la. Ela não fazia nem sombra, nunca conhecemos seu fruto, seus galhos não eram fortes o bastante para subirmos nela. Ela estava inútil. E foi cortada.
Não senti sua falta, hoje só lembrei-me dela porque estava meditando em Mateus 7.15-20, onde Jesus fala das árvores e seus frutos. Fala de conhecermos as árvores pelos seus frutos. E então, me veio à memória essa lembrança de infância. E compreendo muito bem o que Jesus estava querendo dizer.
Mas ele não estava falando de árvores literalmente, estava falando de nós.
Conhecemos as pessoas por suas atitudes. E muitas vezes à vista elas podem ser enganosas. Algumas pessoas não produzem, ficam a vida toda mirradas. Essas pessoas não fazem diferença quando partem.
Mas assim como na minha lembrança infantil, havia a figura do meu pai, que se preocupava em cuidar da árvore infrutífera, assim também penso que nosso Pai se preocupa em cuidar de nós. É como se Ele mesmo fosse nosso solo e nosso agricultor, nosso adubo e adubador, nossa água e nosso regador. Ele é o que nos mantém com vida e o que define a qualidade da nossa existência.
Contudo, há quem prefere enraizar-se em outros solos. E com o passar do tempo, não crescem, não produzem frutos e morrem.
Não sei você, mas eu que tenho na memória lembranças muito mais vivas dos pés de manga em que eu subia, dos frutos que experimentei e me deliciei, penso que a vida deve refletir nos outros coisas boas de lembrar.
Não sei você, mas eu também me sinto muitas vezes incapaz de tanta bondade. Só que há uma grande diferença que posso compartilhar que me sustenta e me mantém com vida, no sentido amplo. É que há alguém que cuida de mim, "poda" meus "galhos secos", refresca a "terra", e analisa meus frutos. E só porque tem alguém que cuida de mim dessa forma é que eu posso continuar me desenvolvendo como pessoa, posso ver esperança, posso sonhar, e posso amar outras pessoas. Só enraizada nessa verdade é que posso produzir bons frutos.
E pra terminar essa metáfora, queria que o mundo todo fosse como um grande pomar sadio e bonito. Que o mundo produzisse frutos de justiça, paz, amor, generosidade. Essas palavras que a gente diz em todo réveillon, mas que na íntegra, são só miragens.
Mas eu não me perco nas miragens, tenho esperanças.
Tenha você também esperança...

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