Quando era criança,
morava em uma casa no interior do Mato Grosso com um grande quintal. Passava a
maior parte do dia nele, junto com outras tantas crianças que apareciam por lá
para brincar.
No quintal havia
muitas árvores, eram pés de pitanga, de coco, manga, goiaba, laranja, acerola,
e se houvesse mais espaço com certeza teríamos mais.
Minhas preferidas eram
os pés de manga. Árvores grandes e boas para subir e descer. E, além disso, seu
fruto era aguardado com tanta ansiedade que sua lembrança já dava água na boca.
Eram quatro no total, todas
diferentes, manga rosa, borbom, coquinho, e uma em especial que nunca
conhecemos seu fruto.
Essa última, era a
mais mirrada, mais feia.
Meu pai tentava cuidar
dela de várias formas, mexia na terra, aplicava inseticidas, regava. Tudo na
esperança de que ela viesse enfim a produzir seu fruto, crescer e desenvolver-se.
Depois de tentar todas
as possibilidades, meu pai decidiu cortá-la. Ela não fazia nem sombra, nunca
conhecemos seu fruto, seus galhos não eram fortes o bastante para subirmos
nela. Ela estava inútil. E foi cortada.
Não senti sua falta,
hoje só lembrei-me dela porque estava meditando em Mateus 7.15-20, onde Jesus
fala das árvores e seus frutos. Fala de conhecermos as árvores pelos seus
frutos. E então, me veio à memória essa lembrança de infância. E compreendo
muito bem o que Jesus estava querendo dizer.
Mas ele não estava
falando de árvores literalmente, estava falando de nós.
Conhecemos as pessoas
por suas atitudes. E muitas vezes à vista elas podem ser enganosas. Algumas
pessoas não produzem, ficam a vida toda mirradas. Essas pessoas não fazem diferença
quando partem.
Mas assim como na
minha lembrança infantil, havia a figura do meu pai, que se preocupava em
cuidar da árvore infrutífera, assim também penso que nosso Pai se preocupa em cuidar de
nós. É como se Ele mesmo fosse nosso solo e nosso agricultor, nosso adubo e
adubador, nossa água e nosso regador. Ele é o que nos mantém com vida e o que
define a qualidade da nossa existência.
Contudo, há quem prefere enraizar-se em outros solos. E com o passar do tempo, não
crescem, não produzem frutos e morrem.
Não sei você, mas eu
que tenho na memória lembranças muito mais vivas dos pés de manga em que eu
subia, dos frutos que experimentei e me deliciei, penso que a vida deve
refletir nos outros coisas boas de lembrar.
Não sei você, mas eu
também me sinto muitas vezes incapaz de tanta bondade. Só que há uma grande
diferença que posso compartilhar que me sustenta e me mantém com vida, no sentido amplo. É que há
alguém que cuida de mim, "poda" meus "galhos secos", refresca a "terra", e analisa
meus frutos. E só porque tem alguém que cuida de mim dessa forma é que eu posso
continuar me desenvolvendo como pessoa, posso ver esperança, posso sonhar, e
posso amar outras pessoas. Só enraizada nessa verdade é que posso produzir bons
frutos.
E pra terminar essa
metáfora, queria que o mundo todo fosse como um grande pomar sadio e bonito.
Que o mundo produzisse frutos de justiça, paz, amor, generosidade. Essas
palavras que a gente diz em todo réveillon, mas que na íntegra, são só
miragens.
Mas eu não me perco
nas miragens, tenho esperanças.
Tenha você também
esperança...
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