quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Desajustes

As vezes esse lugar não me pertence, as vezes o mundo fica desajustado e pequeno.
Reprime, sufoca...
Qualquer lugar é sempre um convite a outro lugar, e todos os lugares tem seu tempo de conforto e depois de desconforto de não pertencer a lugar nenhum.
São momentos em que as ideias não são iguais a nenhuma outra, e não se sabe se é você que é louco ou o resto das mentes o são.
Aqueles momentos em que você se vê de cor diferente no meio de uma multidão cinza.


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Artigo apresentado no Seminário Internacional de Educação


RESUMO

Daniela Miketen. Faculdade La Salle. danimiketen@gmail.com
Natieli Santana. Faculdade La Salle. natipedagogia@hotmail.com

As teorias de Piaget e Vygotsky aplicadas à educação infantil através de recursos lúdicos

Levando em consideração a expansão da educação infantil, que abrange os cinco primeiros anos de vida da criança, apresentamos as referências teóricas de Piaget e Vygotsky relacionadas ao aprendizado e o aproveitamento dessas teorias na creche e pré-escola. Ainda procuramos abranger a importância das atividades lúdicas propostas nas metodologias de ensino para a educação infantil, e constatar as influências dessas atividades e teorias na vida da criança, a curto e longo prazo.

Palavras Chave: Educação infantil.Aprendizagem.Escola

1. INTRODUÇÃO

As mudanças sociais como as conquistas femininas em relação ao mercado de trabalho e produção refletem nas estruturas familiares e educacionais. Quando as mulheres eram principalmente “do lar”, viviam para o cuidado do marido e filhos. A criança neste período começava a frequentar a escola somente após os seis anos de idade.
Com uma nova organização social comentam Craidy e Kaercher (2001) sobre o surgimento das creches e pré-escolas, depois das escolas, associado com o trabalho materno fora do lar, a partir da revolução industrial, e também a uma nova estrutura familiar.
As mulheres ocupam aproximadamente 70% de participação no mercado de trabalho de acordo com os dados do IBGE (2010). Aliado a este fato, seu tempo dedicado exclusivamente ao cuidado do lar, marido e filhos, está reduzido e precisa ser reorganizado entre a vida profissional, social e familiar.
Surge com essa expansão do mercado de trabalho, a necessidade da constituição de creches e pré-escolas, como um espaço de cuidado e educação que permitisse à família continuar sua rotina de trabalho. Para os pais que não possuem horários flexíveis, a educação infantil é uma grande aliada.
Para muitas famílias, contudo, a educação infantil é um ambiente em que a criança apenas brinca, por isso, é importante pensar sobre as dimensões do aprendizado, a relação entre o brincar e o aprender, e as transformações que o espaço escolar pode desenvolver na formação do conhecimento da criança. É importante também responder as perguntas básicas que deveriam ser feitas por todo pai ou responsável que deixa aos cuidados do município ou estado a sua criança: O que este lugar de ensino e relações sociais faz pela criança? O que ele constrói? Como a criança é cuidada e educada neste ambiente?
Há que considerar que a escola pode oportunizar para a criança mudanças que os próprios pais não poderiam, levando em consideração a formação dos profissionais da educação e a profundidade dos estudos teóricos, como Piaget, Vygotsky, Montessori, Skinner e outros, que compreenderam o universo infantil e enriqueceram os conceitos sobre os processos de aprendizagem de maneira a dar-lhe um sentido aprofundado, além de uma práxis intencional onde a criança não é apenas objeto de estudo, mas a preciosidade para a construção do futuro.
Há, contudo, coisas que a escola não pode fazer pela criança, aquilo que é responsabilidade dos pais. Sobre esse aspecto, cabe a consideração da professora de Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas, Telma Vinha:
Muitas vezes [...] a escola terceiriza problemas aos pais, e vice-versa, o que gera sentimentos de impotência e sobrecarga em ambos os lados. Os papéis dos educadores e da família são complementares, porém distintos. Em casa, há uma relação de autoridade entre os pais e filhos. A criança possui também uma posição privilegiada e, por mais que se comporte mal, os relacionamentos se mantêm. Na escola, o cenário muda. O aluno se torna mais um integrante do grupo, aprende a lidar com novas regras, experimenta conflitos e percebe que as relações dependem de suas ações. [...] O fracasso da Educação familiar não pode significar também o insucesso da escola. [...] As crianças que trazem problemas de casa são as que mais precisam do nosso apoio para se inserir socialmente (VINHA, 2012, p. 20).

Os papéis da família e da escola devem estar distinguidos para que as responsabilidades sejam de fato atendidas.
Ficaremos neste espaço escolar, que é nossa área de pesquisa, experiências e observação, principalmente na educação infantil, para uma leitura dos métodos mais utilizados para alcançar o aprendizado e o que algumas atividades lúdicas desenvolvem na construção do saber na infância.
A pesquisa bibliográfica sobre Piaget e Vygotsky traz o fundamento sobre os processos de aprendizagem relacionados à educação infantil neste trabalho. Como pesquisa de campo, entrevistamos a professora Francisca Inácia da Silva, que há nove anos trabalha na educação infantil, primeiramente pré-escola e atualmente na Creche Municipal Irmãs Carmelitas em Lucas do Rio Verde/MT. Ela nos apresentou seu plano de aula, e nos falou sobre o desenvolvimento das atividades lúdicas em sua classe, bem como o objetivo de cada uma.
Selecionamos os principais aspectos bibliográficos dos referidos autores sobre os processos de aprendizagem em relação à criança até os cinco anos de idade. As considerações da professora Francisca estão descritas neste trabalho e também as atividades que ela selecionou de seu plano de ensino, como exemplos para que pudéssemos compreender melhor a utilização do lúdico e os objetivos das atividades, observando ainda a presença dos pressupostos teóricos dos autores nessas atividades.
Depois de coletar as informações, organizar e analisar, tecemos nossas considerações sobre a importância da educação infantil.

2. A EDUCAÇÃO INFANTIL

A LDB nº 9394/96 estabelece as diretrizes gerais para a educação nacional na Seção II, Art. 29, dispõe sobre a educação infantil, como a primeira etapa da educação básica, com a finalidade do desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade, embora a obrigatoriedade de matrícula da criança na escola seja aos seis anos de idade, a partir do ensino fundamental, é também dever do Estado ofertar creches e pré-escolas de Educação Infantil.
Cada vez mais o comportamento infantil se tornou objeto de estudo e observação de diversos pensadores, psicólogos e educadores, levando em consideração a sua formação e aprendizado refletidos na fase adulta. Os valores fundamentais para a vida são estabelecidos e organizados nos primeiros anos da existência humana. A soma desses valores constitui a personalidade e a formação do pensamento, linguagem e comportamento.
Também a forma como a criança é cuidada, orientada, que tipo de tratamento recebe, influenciará na sua formação. As crianças recebem tratamentos diferenciados de acordo com a concepção cultural de valor que lhes são atribuídas. Por exemplo, nas culturas indígenas, os adultos se abaixam para conversar com uma criança para que elas não se sintam inferiorizadas. Imaginemos a diferença que fará na vida de uma criança a forma como ela é tratada na infância. Quando há valorização da infância, há também uma boa formação social na vida dessa criança.
Sabemos que o aprendizado é inerente a todo homem. Todas as pessoas estão constantemente aprendendo, ainda que o façam de maneira informal. É interessante perceber como os aspectos sociais influenciam também no aprendizado. Vimos esse processo acontecer de diferentes maneiras, desde uma memorização enfática até a livre interpretação, não evidenciando um ou outro método, porque ainda hoje se utilizam essas diferentes formas para levar o aluno ao ápice do conhecimento.
Como a criança começa a frequentar a escola antes mesmo de saber falar, significa que muito cedo ela estará envolvida neste processo de orientação, disciplinas e desenvolvimento do aprendizado. Por isso, falaremos sobre alguns dos principais processos de aprendizagem sob as perspectivas de Vygotsky e Piaget e estabelecemos as relações entre a teoria e a prática pedagógica na educação infantil.

3. OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

3.1 Aprender Sob a Perspectiva do Desenvolvimento Cognitivo: Piaget

Piaget (1999) considerou o desenvolvimento infantil através da observação, estudo e organização dos estágios da formação da mente que segmentados em períodos de desenvolvimento são apresentados da seguinte forma; 1° o estágio dos reflexos que são as primeiras tendências instintivas; 2° o estágio dos primeiros hábitos motores e primeiras percepções organizadas; 3° o estágio da inteligência prática anterior à linguagem. Estes três primeiros estágios constituem o período em que a criança ainda é lactente, até aproximadamente os dois anos.
Os estágios seguintes referem-se à fase em que a criança já não é lactente, e já está desenvolvendo o pensamento e a linguagem. O 4° estágio representa a inteligência intuitiva e os sentimentos sociais, principalmente de submissão ao adulto; O 5° estágio das operações intelectuais concretas, a lógica, e os sentimentos sociais de cooperação e o 6° estágio das operações intelectuais abstratas, a formação da personalidade e a inserção na sociedade dos adultos.
Piaget estuda o desenvolvimento epistemológico da criança desde os primeiros dias de vida até a adolescência. A compreensão desses desenvolvimentos possibilita ao profissional da educação o entendimento das ações do aluno nas determinadas faixas etárias e proporciona uma segurança maior no seu trabalho.
Segundo Piaget (1984), o desenvolvimento é uma passagem de um estado de menor equilíbrio para um estado de maior equilíbrio onde as ideias infantis podem parecer incoerentes e instáveis. Mas na busca pela equilibração a criança desenvolverá em cada fase as habilidades necessárias para estabilizar e acomodar a aprendizagem.
Esses estágios são compostos de estruturas originais e distintas, o que delas é essencial, permanece para o estágio seguinte, como uma construção. Ele compara o desenvolvimento com a construção de um prédio que continua a cada tijolo acrescentado, solidificando e formando esse desenvolvimento mental.
Enquanto a criança está na educação infantil, passa por duas fases de desenvolvimento segundo Piaget (1999); a) A fase sensório-motor, do nascimento à aquisição da linguagem (0 a 2 anos), em que ocorre na criança um extraordinário desenvolvimento mental, esse desenvolvimento não foi considerado importante durante muito tempo porque não vinha acompanhado da palavra dificultando o acompanhamento do progresso da inteligência. Mas é um período em que o universo da criança se desenvolve pela percepção e movimentos. É, portanto, uma inteligência prática. b) A primeira infância (2 a 7 anos) demonstra modificações na conduta com o surgimento da linguagem que permite à criança reconstruir suas ações passadas e antecipar suas ações futuras. Ela também dá início a socialização pela linguagem e pensamento.
Sob esses aspectos, o papel do educador consiste em observar em que fase a criança está e colaborar para que esse estágio da criança seja bem solidificado, a fim de não deixar para a fase seguinte uma base pouco resistente, que poderá comprometer a formação do processo de aprendizagem.
A escola sob essa perspectiva serve como meio de instigação à criança, colocando-a em contato com novas situações e objetos, para que ela possa desenvolver os processos de assimilação, acomodação e equilíbrio[1], e os jogos cooperam para o desenvolvimento desse processo. Mas, embora a escola possa colocar a criança em contato com o seu objeto, depende da própria criança o progresso na aprendizagem.
A questão da organização etária e os processos sistematizados por Piaget, bem como a “independência” da criança em relação ao seu aprendizado, é o que pode tornar desinteressante a prática pedagógica e a função da escola que, em seu papel desacomodado, busca participar ativamente do processo, por outro lado, é muito útil no conhecimento do desenvolvimento humano e o sentido das ações em cada fase.

3.2 Aprender: Uma Construção Histórica Cultural de Acordo com Vygotsky

Os processos de Aprendizagem segundo Vygotsky estão relacionados à formação histórica cultural. A pessoa vai fazendo sua própria história a partir da interação e transformação do meio em que vive.
Vygotsky (2008) afirma que compreender e comunicar-se são tarefas comuns às crianças e adultos, mas a forma como cada um desenvolve essas tarefas é diferente. Desde a fase inicial da infância, a criança começa a formar conceitos que são amadurecidos e configurados na puberdade.
Neste raciocínio, ele se aplica ao estudo das formações de conceitos concluindo que: [...] o desenvolvimento dos processos que finalmente resultam na formação de conceitos começa na fase mais precoce da infância, mas as funções intelectuais que, numa combinação específica, formam a base psicológica do processo da formação de conceitos amadurecem, se configuram e se desenvolvem somente na puberdade” (VYGOTSKY, 2008 p.72).
O processo de formar conceitos acontece melhor na vida do individuo quando há a participação de outras pessoas que na troca de informações e ajuda mútua, aperfeiçoa o aprendizado.
Há uma relação entre o aprendizado e o desenvolvimento que não pode ser analisada separadamente, já que estão relacionados e combinados de acordo com a teoria de Krofta, em que o desenvolvimento se baseia em dois processos diferentes, porém relacionados, em que cada um influencia o outro: a maturação que depende do desenvolvimento do sistema nervoso e o aprendizado que é em si mesmo um processo de desenvolvimento.
Vygotsky (2007) analisa as teorias de Krofta e Thorndike sobre o aprendizado. Para Thorndike cada atividade depende de um domínio específico de habilidades específicas que não significa o desenvolvimento de outras, ao contrário Krofta propõe que quando alguém aprende a fazer bem alguma coisa, também fará bem todas as outras coisas.
A grande questão destas discussões é que o aprendizado começa muito antes da criança frequentar uma instituição de ensino. O que diferencia o aprendizado pré-escolar do escolar é apenas a sistematização do ensino. Ao entrar na escola a criança se encontra com conceitos que entram em contradição com o conhecimento espontâneo que possuía, e a dificuldade de apropriar-se desses conceitos é muitas vezes vista como erro pela escola, Moço (2012).
Assim sendo, quando a criança entra na escola, ela protagonizará os níveis de aprendizado, que segundo Vygotsky são essencialmente dois: o desenvolvimento real e o potencial.
O desenvolvimento real está relacionado ao que a criança sabe fazer sozinha, sem pistas, sem ajudas, a partir de seu desenvolvimento mental. Nesse sentido, observou-se que crianças de mesma faixa etária apresentavam desenvolvimentos mentais diferentes. Portanto, um sistema funcional de aprendizado de uma criança pode não ser idêntico ao de uma outra, embora possa haver semelhanças em certos estágios do desenvolvimento.
O desenvolvimento potencial é o que a criança sabe fazer com a ajuda de alguém, no caso, o educador.
Entre o que a criança sabe fazer sozinha e o que ela faz a partir da ajuda de alguém está um espaço denominado zona de desenvolvimento proximal[2]. Nesta zona de desenvolvimento proximal é que “permite-se delinear o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando o acesso não somente ao que já foi atingido através do desenvolvimento, como também aquilo que está em processo” (VIGOTSKI, 2007, p.98).
Por meio da aprendizagem a criança poderá avançar da zona de desenvolvimento proximal e despertar seus próprios processos internos para o desenvolvimento potencial, que ficam mais bem identificados quando a criança interage com as pessoas em seu ambiente.
Vygotsky (2007) fala da importância que a linguagem exerce sob a aprendizagem. As crianças pequenas, primeiro fazem um desenho, e somente depois de vê-lo é que decidem o que ele é. À medida que elas se tornam mais velhas, adquirem a capacidade prévia de decidir o que vão desenhar. Primeiro a fala segue a ação e é dominada pela atividade, quando a fala se desloca para o início da atividade há uma nova relação entre a palavra e a ação. A fala dirige, determina e domina o curso da ação. A rotina dá a criança nesse aspecto, a capacidade de planejar sua ação.
Nos dois primeiros anos, a criança reconhece objetos isolados. Ela está na fase de percepção e associação desses objetos isolados aos gestos que compensam a dificuldade em comunicar-se através da linguagem. O rumo de desenvolvimento da criança caracteriza-se pela alteração do comportamento em cada novo estágio, é um processo dialético que envolve fatores internos e externos.
Para Vygotsky, um dos aspectos essenciais do desenvolvimento é a habilidade da criança no controle do comportamento que se torna possível pelo desenvolvimento de novas formas psicológicas e o uso dos signos.
A criança expande os limites do seu entendimento integrando os símbolos em sua consciência. A linguagem é um meio de reflexão pessoal e social, pois relacionada o indivíduo e sociedade.
As pesquisas realizadas por Vygotsky são de extrema importância para a compreensão da individualidade e socialização da criança em todo trajeto escolar. Através dessa compreensão se percebe as diferenças no desenvolvimento mental, e pode-se estimular o aprendizado.
Diferente de Piaget que sistematiza e universaliza cada fase, Vygotsky demonstrou uma flexibilidade maior relacionada ao aprendizado. Demonstrando através de várias pesquisas, que apesar de semi organizado, ele não é universalizado, há que considerar o contexto de aprendizagem de cada criança e sua relação com o ambiente.
Diante desta teoria, o papel do educador é observar o que o aluno consegue fazer sozinho (seu desenvolvimento real), para intuir qual seu potencial futuro e estimular o alcance desse potencial.

3.2.1 O lúdico sob a perspectiva de Vygotsky

O brincar tem para a criança uma relevância fundamental no processo de aprendizagem, pois como aponta Vygotsky (2007), no início da idade pré-escolar a criança tem desejos que não podem ser satisfeitos, e ela se envolve num mundo de imaginação e ilusão para satisfazer seus desejos e realizá-los, esse mundo é chamado de brinquedo.
Durante os anos da pré-escola e da escola as habilidades conceituais da criança são expandidas através do brinquedo e do uso da imaginação. Nos seus jogos variados a criança adquire e inventa regras, e nessa imaginação a criança sempre está acima da sua idade e do seu comportamento diário quando brinca.
Vygotsky (2007) distingue que para crianças antes dos três anos de idade, é muito difícil se envolver em uma situação imaginária, porque ela tem comportamentos determinados e limitados. Mas ela pode desenvolver relações com os objetos, que ditam o que ela pode fazer, por exemplo, diante de uma porta, ela desenvolve movimentos de abrir e fechar, na relação ação com o objeto diante dela.
Como o brinquedo exige ações movidas por regras e imaginação, só pode ser desenvolvida quando a criança é capaz de separar o pensamento do objeto, e então ela pode utilizar objetos quaisquer para o pensamento que têm, por exemplo, quando uma garrafa pet se transforma, em seu pensamento, em uma boneca. Vygotsky vê o brinquedo como meio de desenvolvimento cultural da criança.
Os jogos e brincadeiras adquirem um papel importantíssimo, pois é uma maneira de conhecer o desenvolvimento real da criança e agir na zona de desenvolvimento proximal para que tenha seu potencial elevado. As brincadeiras tiram a criança da zona de conforto, trazendo confrontos entre o que ela já sabia e o que ela poderá saber.

4. O BRINCAR E APRENDER NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DEPOIMENTO DA PROFESSORA FRANCISCA INÁCIA DA SILVA

4.1 O Brincar e o Aprender

O lúdico utilizado como metodologia de ensino no tempo em que a criança fica na creche e pré-escola, e os objetivos que cada atividade pretende alcançar é um desenvolvimento da práxis pedagógica, e alcança dimensões profundas na vida da criança.
Erikson[3] (1971) nos fala da brincadeira como uma forma da ritualizar a experiência pessoal da criança e as relações que a envolvem, em que deixa desenvolver seus desejos e sonhos e supera as vergonhas, dúvidas, ansiedades e culpas. Então o brincar ajuda a libertar a criança de emoções reprimidas e aliviá-la dessas frustrações.
 Sob o ponto de vista desenvolvimentista, Erikson (1987) fala de uma auto-esfera das sensações do corpo para o brincar; uma microesfera para os brinquedos e uma macroesfera que se refere aos outros. Na microesfera dos brinquedos a criança transfere para os brinquedos sentimentos, gestos e atitudes que se referem ao seu corpo, à sua vida e aos seus sentimentos. Funciona como um objeto de projeção das sensações que não consegue expressar e dizer. Um alerta é necessário se fazer, quando a criança não consegue expressar na microesfera dos brinquedos as suas sensações, podendo regredir para sua auto-esfera, isto é, para seu próprio corpo, introjetando em mecanismos de defesa as sensações que não conseguiu expressar na microesfera, como, por exemplo, chupar o dedo, masturbar-se, gagueira e outros desvios de conduta.
Na macroesfera se conjugam as necessidades de brincar com as orientações lúdicas para a formação da sua vida. Integram-se os elementos importantes do desenvolvimento epigenético da criança com sua necessidade de inserção no mundo dos adultos, onde já se orienta para os elementos formativos dos valores da esfera social, para cada um dos elementos numinosos dos valores religiosos, judiciosos dos valores morais, formal dos valores tecnológicos e do ideológico dos valores de ordem ideológica. Isto pode significar uma passagem tranquila do brincar para o pensar, do brincar para o trabalhar.
Pois o poder ritualizador do brincar é a forma infantil da capacidade humana de lidar com a experiência, ao criar situações-modelo e ao dominar a realidade através do experimento e do planejamento. É em fases cruciais de seu trabalho que o adulto também ‘brinca’ com experiências passadas e tarefas antecipadas, começando com aquela atividade na auto-esfera chamada pensamento (Erikson, 1998, p. 47).

A atividade lúdica é muito mais do que uma atividade de descontração para a criança, ela é um instrumento de ampla percepção do comportamento dessa criança, pois o professor tem a partir dessa metodologia como perceber aspectos psicológicos que a criança desenvolve.
Além dessa iniciação da criança na forma do pensamento e do trabalho adulto antecipa-se o processo de se fazer do trabalho um ócio, um exercício agradável e desejado, mutuamente complementar e necessário para a saúde das pessoas. Assim, o trabalho e o brinquedo não são vistos como mutuamente separados, o brincar antecipa a forma adulta de enfrentar a realidade e a superação das contradições da vida pessoal e social anteriormente experimentadas. O brincar constrói situações modelos para enfrentar seus próprios sentimentos de frustração ou de ansiedade e antecipa a forma de solucioná-los na vida real. A cena, o palco, o filme antecipam o desejo de construir o que ainda não se pode realizar na vida real. Neles também aparecem todos os sintomas da vida humana não resolvidos das ritualizações numinosas, judiciosas, formais e ideológicas, bem como das ritualizações não formalizadas em associações e em formas produtivas e filosóficas.
Todos os temas da idade do brincar, diz Erikson (1998), dos elementos numinosos transcendentes, das fantasias judiciosas de autonomia e liberdade, das dramatizações da microesfera e da macroesfera do imaginário infantil e todo o interior inconsciente se expressam no sonho. A partir da verbalização pela criança e sua análise podemos conhecer o conteúdo, os processos e a dinâmica afetiva da criança e educá-la no seu desenvolvimento.
O brincar é um estágio preparatório para que a criança viva a fase adulta de maneira equilibrada e saudável.
Barbosa e Horn (2001) descrevem a importância da organização das atividades no cotidiano escolar, possibilitando o envolvimento das crianças na construção das diferentes dimensões de acordo com suas necessidades.
Quando a criança está na creche e pré-escola, ela não está apenas sendo cuidada, mas também educada. O desenvolvimento de atividades lúdicas nas metodologias de ensino trazem essa dimensão de construção psicológica e desenvolvimento cognitivo e social.

4.2 Depoimento da Professora Francisca Inácia da Silva Sobre a Utilização dos Recursos Lúdicos Em Seu Plano de Aula.

            A professora Francisca Inácia da Silva, é pedagoga, especializando-se em Educação Infantil e Especial, trabalha com Educação Infantil há nove anos, atualmente na Creche Municipal Irmãs Carmelitas, em Lucas do Rio Verde/MT, e compartilhou conosco sobre algumas atividades lúdicas que desempenha em seu trabalho e quais objetivos essas atividades desenvolvem.          
Questionamos sobre os aspectos que considera mais relevantes ao desenvolvimento da criança que frequenta a creche, ao que ela destacou o aspecto de socialização, que permite à criança conviver com outras de mesma idade e nessa interação desenvolve valores sociais que são essenciais à sua formação. Percebe que crianças que frequentam a educação infantil, desenvolvem melhor sua formação cognitiva e social.
Através de sua experiência, percebe que a escola contribui para o desenvolvimento social, educacional e psicológico da criança, e quanto antes ela tiver contato com esse ambiente, melhor será esse desenvolvimento.
            Compartilhou conosco a importância dos recursos lúdicos na educação infantil, principalmente na creche em que a linguagem e escrita ainda não estão desenvolvidas, e os jogos e brincadeiras ganham uma dimensão de didática essencial. Sua proposta curricular utiliza os jogos e brincadeiras de maneira organizada com objetivos a serem desenvolvidos, buscando desenvolver na criança interação social, coordenação motora, conhecimento de suas habilidades, etc.
            Quando nos permitiu ver algumas atividades que realizou em classe, percebemos nelas os pressupostos teóricos de Piaget e Vygotsky, como disposto a seguir:

Atividade 1: Teatrinho (dramatizar a história: Linda rosa juvenil)
Objetivo: Oportunizar de forma lúdica a ampliação das habilidades
Pressuposto teórico: Piaget no estágio pré-operatório.
Conteúdo: Linguagem oral e desenvolvimento da escrita, artes visuais, movimento e expressão corporal.
Idade: Pré-escolar
Procedimentos: Juntamente com as crianças desenhar em uma cartolina o cenário (rosa, relógio, príncipe, a bruxa, a floresta, e demais integrantes do teatro). Propor às crianças a dramatização da música:

 “A linda rosa juvenil”.
A linda rosa juvenil, juvenil, juvenil
A linda rosa juvenil, juvenil
Vivia alegre em seu lar, em seu lar, em seu lar
Vivia alegre em seu lar, em seu lar
E um dia veio uma bruxa má, muito má, muito má
Um dia veio uma bruxa má, muito má
Que adormeceu a rosa assim, bem assim, bem assim
que adormeceu a rosa assim, bem assim
E o tempo passou a correr, a correr, a correr
E o tempo passou a correr, a correr
E o mato cresceu ao redor, ao redor, ao redor
E o mato cresceu ao redor, ao redor
E um dia veio um belo rei, belo rei, belo rei
E um dia veio um belo rei, belo rei
Que despertou a rosa assim, bem assim, bem assim
que despertou a rosa assim, bem assim
Batemos palmas para o rei, para o rei, para o rei
batemos palmas para o rei, para o rei

Avaliação da atividade: A participação das crianças nessa atividade traz uma percepção do comportamento de cada criança.
Recursos: cd, papeis (cartolina, cartão) cola, tesouras.

Atividade 2: Esconde-esconde na banheira.
Objetivo: Oportunizar momentos de tranquilidade durante o banho ampliando o vocabulário e trabalhar os seus movimentos reflexos;
Idade: Creche (bebês a partir dos seis meses).
Pressuposto teórico: Piaget, desenvolvimento sensório-motor e reflexos neurológicos básicos.
Conteúdo: Linguagem oral e escrita; Ampliação de vocabulário; Movimentos rudimentares; Reflexos.
Procedimentos: Numa banheira com o bebê batendo na água com as duas mãos, a educadora que está sentada ao lado da banheira cuidando de sua segurança, chama pelo nome do bebê enquanto pega uma toalha de banho e pergunta: você está pronta para brincar de cadê você? E coloca a toalha na frente do seu rosto para escondê-lo da criança. Pergunta: “Cadê” você “Vitória”? Não consigo ver você. Cobre seus olhos novamente e repete a fala. Durante essa atividade, é importante sempre manter o diálogo com a criança para atingir seu objetivo. Avaliar: Se as crianças participam da atividade oportunizada as elas.

Atividade 3: Afetividade
Objetivo: Estimular entre as crianças momentos afetividade através de brincadeiras.
Pressuposto teórico: Vygotsky; Zona proximal
Conteúdo: Formação pessoal e social
Idade: Pré-escola
Procedimentos: Com uma caixa de brinquedos variados proporem a turma que brinque em grupo de família, amigos, escola. Observar e mediar quando necessário.
Avaliar: A participação da criança na atividade proposta, os conceitos que a criança possui dos grupos propostos e como interage.

Atividade 4: Pintura da parede de azulejo
Objetivo: Estimular exploração de texturas, tocando diversos tipos de superfície.
Pressuposto teórico: Vygotsky
Conteúdo: Artes visuais, percepção tátil
Idade: creche e pré-escola
Procedimentos: Primeiro vamos promover contato como lixa, argila, papel liso, regado cada um conheça as varias texturas. E logo depois vamos pintar a parede de azulejo com tinta guache com as mãos para criar expostamente os desenhos, aproveitando a oportunidade para questionar como é brincar com tinta, lixa, papel rasgado e outros.
Avaliar: Como as crianças participaram das atividades propostas. O conhecimento real das texturas e o desenvolvimento do potencial em relação às mesmas.
           
Em sua prática docente, a professora Francisca diz que a teoria de Vygotsky, sócio interacionista é a mais utilizada no processo de aprendizado onde se possibilita construir o conhecimento a cada momento, e a ludicidade é uma estratégia insubstituível para essa construção e para alcançar os objetivos institucionais. Já a relação do lúdico com a teoria de Piaget, permite especificamente uma observação dos estágios e o contato da criança com os objetos da atividade, mas a construção do aprendizado nesse pressuposto é mais uma reação natural da criança do que uma interação social. Por isso, quando propomos a ludicidade, de Piaget temos os referenciais de comportamento previsíveis de acordo com a faixa etária, e de Vygotsky temos o desafio de utilizar essa atividade para fazer com que a criança se potencialize. Piaget nos aponta referenciais de observação e Vygotsky nos aponta referenciais de ação para o progresso do aprendizado.
A professora destaca que o lúdico permite ao professor perceber cada aspecto do comportamento da criança, exige do profissional um olhar atento e intencional, pois a partir dessa percepção é possível também estabelecer os planos de ação para que o aprendizado aconteça.
Plano 2012 – Francisca Inácia da Silva.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos os pressupostos teóricos de Piaget e Vygotsky como excelentes referenciais para o desenvolvimento da aprendizagem na educação infantil. Percebemos que essas teorias servem como suporte para o conhecimento da criança e seu desenvolvimento.
A interação social proposta por Vygotsky, gera conflitos e construção de saberes que a criança precisa para desenvolver-se mais e melhor. A escola proporciona isso. O conhecimento cognitivo proposto por Piaget permite ao educador perceber em que momento a criança está e ajudá-la a organizar seus reflexos e ações equilibradamente.
Percebemos, contudo, através da experiência da professora Francisca, que os pressupostos teóricos de Vygotsky, permitem ao professor um maior campo de ação em relação à criança, e o lúdico nesse aspecto ganha uma dimensão mais significativa, por promover a interação entre a criança e as outras crianças, e o professor. Enquanto que os pressupostos teóricos de Piaget são mais diretivos em relação ao comportamento da criança, pré-determinado para cada fase, e o professor não tem muito espaço de ação sob esses comportamentos, porque eles acontecem naturalmente. A atividade lúdica no pressuposto teórico de Piaget, especialmente permite à criança o contato com novos objetos e ações estimulando suas atividades motoras e psicológicas, mas estas acontecerão independentes da ação do professor, porque faz parte da genética da criança.
Quando integrada à escola, a criança está exposta as relações sociais, e a construção dos primeiros conceitos e forma de aprender. As atividades lúdicas realizadas neste período ajudam a desenvolver suas ações e reflexos, ajudam a preparar essa criança para a fase adulta e sua relação com o trabalho, bem como sua interação com as outras crianças. Dando-lhe uma percepção maior de mundo e melhorando em longo prazo as relações sociais que terá.
O aprender de maneira sistematizada e intencional, como acontece na educação infantil, é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança. Frequentar este ambiente antes mesmo de começar a falar, é um fato positivo quando levados em consideração que nele a criança terá a oportunidade de realizar atividades intencionadas para estimular o desenvolvimento mental, cognitivo e social.
As teorias analisadas são, portanto, de extrema importância para o conhecimento das ações relacionadas à criança e como acontece o aprendizado até os cinco anos de idade, a escola deve mesmo se apropriar desses referenciais teóricos como fonte de pesquisa e observação para embasar as metodologias, contudo, deve também aprimorar os referenciais ao próprio contexto, que é diferente em cada tempo e lugar.
                       
REFERÊNCIAS
ANTUNES, C.; Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 17ª Ed. Rio de Janeiro: VOZES, 2011.
BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
CRAIDY M.; KAERCHER G. E. P. S.; Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: ARTMED, 2001.

Erikson, Erik. Infância e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1971.

——--------. Identidade, juventude e crise. 2. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

--------——. O Ciclo de vida completo. Porto Alegre: Artmed, 1998.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Ciência. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/> Acesso em: 27 mai. 2012.

MOÇO, A.; Vencendo os erros. Revista Nova Escola. São Paulo, Ano XXVII, n.250, p. 43, março, 2012.

PIAGET J. Seis estudos de Psicologia. 24º Ed. Rio de Janeiro: FORENSE UNIVERSITÁRIA, 1999.

VYGOTSKY L. S. Pensamento e Linguagem. 4º Ed. São Paulo: MARTINS FONTES, 2008.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos superiores. 7º Ed. São Paulo: MARTINS FONTES, 2007.

VINHA T. E agora Telma? Revista Nova Escola, São Paulo, Ano XXVII, n. 249, p. 20, janeiro/fevereiro, 2012.


[1]  É um esquema proposto por Piaget, em que a assimilação consiste em integrar novas informações e experiências ao esquema que já possui. A acomodação consiste em ajustar os esquemas já existentes com as novas informações e equilibração é o perfeito ajuste entre a assimilação e acomodação para a realidade, de maneira que nem um ou outro estejam desajustados.

[2] Um dos princípios básicos da teoria de Vygotsky é o conceito de zona de desenvolvimento proximal que representa a diferença entre a capacidade da criança resolver problemas sem a ajuda de alguém e a capacidade de resolver os mesmos problemas com a ajuda de alguém. Esse conceito está relacionado ao aprendizado social em que a criança desenvolve sua capacidade intelectual com a ajuda da capacidade intelectual de pessoas que a cercam, os processos de desenvolvimento interno são despertados pela interação com o ambiente de convívio.
[3] Erik Erikson propõe uma concepção de desenvolvimento psicossocial que se divide em oito estágios em idades decorrentes do nascimento até a morte. Cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma negativa. Os primeiros quatro estágios referem-se ao período da infância e os outros a idade adulta e velhice. Cada um deles contribui para a formação da personalidade total, por isso, todos são importantes. Sua teoria enfatiza o conceito de identidade e a crise, que conforme for resolvida determinará o futuro da pessoa.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Ideias

Ninguém pode conter as ideias... elas vão surgindo quando uma leitura está sendo apreciada, elas vêm antes do sono chegar, ou roubam-lhe o espaço. Elas acontecem sem querer, sem pressão.
As frases simplesmente vão se desenvolvendo e fazendo sentido aqui e ali em algum projeto, alguma ação, alguma publicação.
Ideias não podem ser contidas.
Ideias não podem ser medidas.
Ideias vêm pra ficar.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Bruno Mars

Quando eu disser sinceramente "conte comigo", e estiver disposta a estar junto independente da circunstância, ser companhia na solidão, alegria na tristeza... ser para o outro, então, estou aprendendo o que é amar...

Algumas impressões sobre relacionamento

Procura-se alguém para amar!
Essa frase é apelativa, e um tanto ridícula se pensar que em todo lugar há alguém esperando ser amado. Então, porque não amamos qualquer pessoa? Porque eu não amo qualquer pessoa?
Talvez porque estou procurando um amor que não dificulte a escolha de amar. Alguém que tenha conversas interessantes, com quem possa rir muito.
Alguém que saiba ser amigo, mas que essa amizade tenha um ar de mistério e gostinho de possibilidades.
Alguém que consiga me deixar à vontade para ser conhecida e de quem eu descubra afinidades, gostos iguais e gostos totalmente diferentes, mas principalmente descobrir sonhos e aspirações comuns, e ver nisso uma esperança de parceria.
Alguém que se apresente como parceiro capaz de ouvir, estar junto. Que seja criativo e se torne mais interessante a cada dia, com uma beleza irresistível.
Alguém que se interesse pelo que fiz da vida, pelas histórias bizarras e tristes com a mesma intensidade, e que seja capaz de rir de verdade, ouvir de verdade, conhecer de verdade.
Alguém que seja capaz de descobrir como conquistar, de forma inteligente e saudável, mais que uma amizade, um amor.
E que queira passar os dias da vida junto, compartilhando sonhos e realizando-os.
Alguém que sonhe mais alto que a média, que tenha a visão mais ampla, que deseje e ame intensamente, que tenha o melhor coração, a mente sã, o sorriso lindo, o desejo de construir...
Alguém que deseje ser o melhor marido, o melhor pai, que tenha lido muito sobre muitas coisas, mas que queira praticar o desejo do coração de Deus.
Pois é, essa pessoa é praticamente perfeita. Qualquer outra pessoa seria capaz de amar alguém assim.
Penso que, meu coração precisa estar disposto a amar alguém imperfeito, que não me escute o tempo todo, não dá toda atenção que preciso, não é sempre a pessoa mais bonita, conhece de mim o que acha que é mais importante e nem sabe muito bem como conquistar... mas que apesar disso, ame de verdade. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eu e esse tal caminho


Uma vez me imaginei trilhando este caminho da vida com tanta pressa para chegar logo ao seu fim, que nem prestei atenção ao que existia no caminho.O que me movia era a ansiedade de chegar logo...Eu tenho isso de ser ansiosa pelo que irá acontecer, as vezes fico tão ansiosa que esqueço o processo, o como, o por que, o pra que. só quero mesmo ver o desfecho de tudo.E aí as coisas acontecem, tenho o desfecho, mas as vezes a sensação é que aquilo não foi tão perfeito assim.
A ideia que faço das coisas e até das pessoas, geralmente é bem melhor do que a realidade.Quero dizer com isso, que eu já perdi bastante do meu tempo de vida preocupada com desfechos, e já deixei de prestar devida atenção há muitos momentos importantes neste processo.Mas eu também já vivi intensamente muitos momentos, e a maioria deles não tiveram ainda seu desfecho.
Percebi a tempo que o caminho é tão importante.Percebi também que se parar um pouco para investir um tempo de conversa, um momento de distração, um pouco de lazer, não vai impedir que a minha caminhada continue, e vai com certeza melhorar a qualidade do meu processo.Hoje eu optei por fazer algumas escolhas, como não deixar essa ansiedade afetar a qualidade da minha vida.
Todos os dias tenho escolhas importantes para fazer, e a maioria delas acontecem dentro de mim, e eu as faço, consciente e segura.Hoje sou uma versão atualizada de mim, que se renovará amanhã, como disse Mario Sergio Cortella.
Quem me conheceu há tempos atrás, saberá que muitas coisas mudaram, porque me permiti caminhar em novidade de vida, e assim, me permito mudar de ideia quando percebo a incoerência delas.
Me permito olhar alguém, não gostar de imediato e mesmo assim não ficar pelo que julguei a priori, mas me permito conversar e então decidir ou não andar junto.Me permito sonhar, sorrir, e parar no caminho.Me permito errar, principalmente, porque aprendo muito quando erro, e muitas vezes só aprendo mesmo quando erro, é a teimosia, mas... ainda prefiro seguir em frente e talvez voltar depois, do que ficar imaginando como seria seguir em frente.Também me permito viver bem com as diferenças, ser séria e ser sorriso, ser triste e feliz.
Me permito viver intensamente os momentos que a vida me dá, com as sensações que despertam em mim.
As vezes eu ainda saio correndo neste caminho, doida de vontade de ver o desfecho de muitas coisas, mas aí, algo me lembra que eu já fiz isso varias vezes, e minha experiência de vida me pára, me coloca de novo no ritmo calmo e seguro.Eu sou uma andarilha em construção, viajante em observação, apaixonada sem noção...A ideia de vida como um caminho a ser trilhado, é pra mim algo muito real, eu gosto de pensar assim.Sei que a cada curva, esquina, avenida, algo diferente me espera, uma coisa que nunca vi, outras que não sei fazer. Então tenho sempre que ousar e aprender.E então, termino com a letra desta canção... que faz muito sentido para mim neste momento!


Depois da Curva
Amanhã, talvez
Esse vendaval faça algum sentido
Dá pra se dizer
Qualquer coisa sobre todo mundo

Por hoje é só
Vou deixar passar a ventania
Talvez amanhã
Vento, vela e velocidade

Mar azul, céu azul sem nuvens
Logo ali depois da curva
Ali, logo ali,
Ali depois da curva

Amanhã talvez
Esse temporal saia do caminho
Dá pra escrever
O papel aceita toda qualquer coisa

Por hoje é só
Vou deixar passar a tempestade
Talvez amanhã
Água pura e toda verdade

Mar azul, céu azul sem nuvens
Logo ali depois da curva
Ali, logo ali,
Ali depois da curva

Ali, logo ali,
Ali depois da curva
Ali, logo ali
Eu vi, eu vim, venci a curva