ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE EDUCAÇÃO EMBIENTAL
Daniela Miketen[1]
RESUMO
O universo desde sua origem até os
dias atuais sofreu e vem sofrendo transformações significativas a todo tipo de
vida nele existente. Essas modificações são decorrentes da própria ação do
homem. A partir da primeira e segunda Guerra Mundial, ocorreu uma sucessão de
transformações sociais e econômicas, que modificaram o estilo de vida humano e
o modo de consumo. A vigência do sistema capitalista de consumo trouxe consigo
grandes e trágicas conseqüências sobre as quais trataremos a diante. É
inevitável que todas as ações realizadas nesses anos todos de desenvolvimento
acelerado, venham acompanhadas de degradação e sérias conseqüências para esta e
as próximas gerações.
Palavras-chave:
Homem-natureza.Relação.Ambiente
INTRODUÇÃO
A
sociedade está envolvida em um contexto globalizado e evoluído em todos os
aspectos, contudo, é preocupante a situação da vida em nosso planeta, tanto que
o tema ambiente, sustentabilidade, preservação dentre outros, tem sido de
destaque na mídia, escolas, debates políticos. Esse contexto nos faz refletir
sobre quais os momentos na história em que nós, agentes do caos ambiental, nos
descuidamos de toda forma de vida planetária e das conseqüências que isso nos
traria no futuro?
Essa
questão remete nosso olhar ao objetivo de elaborar uma sequencia história para
descrever a relação homem-ambiente ao longo dos anos. Para tanto é preciso
entender a história humana e as relações com o meio, dividida em partes
especificas, desde povos primitivos, Grécia Antiga, Europa Medieval, Europa Renascentista,
Iluminismo, Modernidade. Entender essas fases nos ajudará a reconhecer fatores
influentes para o que pensamos hoje a respeito de Educação Ambiental, bem como
nos ajudar a verificar erros adjacentes que precisam ser urgentemente
corrigidos.
O
descuido de entender esse processo faz com que muitos se tornem alienados e
despreocupados com relação ao tema. Não
basta apenas falar sobre o que vemos hoje acontecer com o planeta, mas é
importante também compreender o processo que nos trouxe como humanidade até o
que conhecemos hoje. Conhecer o passado nos dá ferramentas para mudar o futuro
e não repetir os mesmos erros. Pesquisar sobre esse tema é de extrema
importância. Além de estar em discussão em todas as mídias, por serem reais as
modificações ambientais e catástrofes decorrentes dessas modificações, é
necessário manter essa discussão em vigor para orientar pessoas as
transformações necessárias numa tentativa de amenizar os impactos que sofremos,
e buscar novas alternativas para sustentabilidade e vida.
A
fim de explicar o contexto social e as mudanças ocorridas durante os anos de
nossa existência, a dialética nos ajuda a formular estratégias de ação. O
método histórico pode ser base para ações futuras, é o que explica essa
pesquisa bibliográfica.
RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA NOS POVOS PRIMITIVOS
É
lógico pensar que a relação homem-natureza nos povos primitivos não era como a
conhecemos hoje, aliás, muito se distancia de nossa forma de relação. Para as
primeiras civilizações, cuja cultura era de subsistência, essa relação era
baseada na necessidade fisiológica.
Para
Sahtouris (1991) há uma distinção entre povos primitivos, divididos entre as
sociedades agrícolas e sociedades caçadoras nômades. As sociedades agrícolas
eram bem planejadas e administradas; havia grandes cidades e ao mesmo tempo
tecnologia agrícola. Esses grupos constituíam sociedades igualitárias, pacíficas
e democraticamente avançadas. Em contraste, as sociedades caçadoras nômades
seriam constituídas de invasores e conquistadores, experientes no uso de armas.
Esses povos não eram igualitários, estabelecendo-se sob forma de competição.
Assim
como a organização social dessas comunidades eram diferentes, sua maneira de
ver a natureza também se diferenciava. As sociedades agrícolas tinham com a natureza
uma relação de parceria, enquanto que as sociedades caçadoras, uma relação de
domínio. Na parceria, o ambiente é vivo e está em transformação, assim como o
próprio homem. No domínio a natureza é separada do homem, e este tem sobre ela
total poder.
Esse
contexto nos mostra duas linhas de pensamento com duas maneiras distintas de
ação como comenta Cidade (VISÕES DE MUNDO..., 2001,
p.6)
Há
a possibilidade de contextos sociais e materiais distintos desenvolverem
valores opostos que, por sua vez, alimentariam diferentes visões de mundo. Essas
predisposições seriam traduzidas em diferenças marcadas nas representações
sobre a natureza: (1) a concepção de uma natureza universal, dinâmica e
integrada; e (2) uma natureza externa, objeto da intervenção humana
Logo,
podemos perceber que desde os povos primitivos, a relação homem-natureza não
foi homogênea, embora ambas as culturas procurassem auto sustentabilidade, a
forma de pensar sobre o assunto, refletiria em suas ações em longo prazo.
RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA NA GRECIA ANTIGA
Uma
das mais fortes civilizações que conhecemos foi a Grega. Embora dominados pelo
império Romano, suas idéias permaneceram vivas nesse, assim como permanecem até
hoje. Consequentemente sua maneira de relacionar-se com a natureza são de suma
importância.
Começamos
abordando essa fase histórica com os comentários do biólogo, astrônomo e
historiador da ciência Sagan (1983) sobre a Jônia: uma região insular na qual
se encontrava uma variedade de sistemas políticos, o que facilitava grande diversidade
social e intelectual e a livre investigação. Caracterizava-se como uma área com
tradição mercantil, na qual o trabalho manual era valorizado. Na Jônia
realizou-se a grande revolução no pensamento humano, abrindo caminho para o
despertar da ciência, em substituição aos mitos nos quais a vida era governada
por deuses imprevisíveis e descontentes. Para o autor, a chave dessa revolução
teria sido a mão, favorecendo a experimentação necessária para o
desenvolvimento de um conhecimento independente da religião.
Explica
Sahtouris (1991) que todos os governos até então eram supostamente
influenciados pelos poderes dos deuses, nessa concepção o homem é um ser
controlado pelos deuses, bem como a natureza. Mas uma mudança no pensamento
começa a surgir, descaracterizando o poder dos deuses, e passando do mítico ao
cientifico. Enquanto que os milésios viviam na relação ordem e desordem em que
nem mundo nem homem seriam perfeitos, na relação ateniense surge a busca de uma
democrática para homens imperfeitos em um mundo imperfeito.
Enquanto
o pensamento era totalmente mítico, o homem apenas usufruía dos fenômenos naturais
sem modificá-los, pois eram ações dos deuses. Conforme muda o pensamento, o
homem começa a perceber uma regularidade nos fenômenos naturais que podem ser
aperfeiçoados pelas técnicas. Ou seja, algo pode ser feito para que esses
fenômenos não causem danos ao homem. O controle agora é mais do homem do que
dos deuses.
RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA DA EUROPA MEDIEVAL ATÉ EUROPA
RENASCENTISTA.
Após
um período conhecido como Período das Trevas, do qual pouco sabemos, renasce a
história, os fatos, acontecimentos principalmente na Europa grande potencia da
época a partir do Sec. V. nesse contexto predominava uma cultura feudal, e o
domínio da Igreja sobre a sociedade.
Cidade
(2001) acredita que a visão de natureza
nesse período, ainda seguia por duas linhas, uma que a via como orgânica, em
constante transformação e integração com o homem e outra que a via como objeto
separado a ser dominado pelo homem. Como nesse período da Europa Medieval
predominava os valores da Igreja, consequentemente influenciados pelos valores
judaico-cristãos de natureza, o mais provável é que a relação predominante era
de integração homem-natureza.
Já
na era Renascentista a partir do Sec. XVI há o florescimento das artes, e o
capitalismo emergia na Inglaterra iniciando a transição de uma sociedade
agrária para uma sociedade industrial. “Os avanços do conhecimento fizeram com que alguns
cientistas, embora religiosos, entrassem em conflito com o conteúdo do
conhecimento aceito pela doutrina da Igreja”, comenta Cidade (2001, p.9). A
conjugação de práticas experimentais com sistemas baseados na razão e no
pensamento analítico contribuiu para desencadear o que foi chamado de revolução
científica.
Surge
nesse tempo uma explosão de pensamentos, idéias, reflexões, que despertaram a
mente de filósofos para a ciência. O gosto pelo novo, pelo experimento foi
tomando forma e conquistando espaço, de maneira que a visão até então
predominante de natureza como parte integrante do homem foi trocada pela visão
de natureza controlável.
Observemos
as seguintes observações acerca dessa relação homem-natureza nesse período.
As
concepções de natureza na Europa renascentista baseavam-se na crença dominante
da natureza como entidade exterior, sujeita a regularidades regidas por leis
mecânicas, desvendadas pela razão por meio da matemática. Para Galileu, Deus
era geômetra, como em Platão. A natureza estaria escrita na linguagem
matemática. Assim, a tarefa mais importante na época do renascimento da ciência
era “descobrir as leis matemáticas pelas quais Deus criara o mundo. (SAHTOURIS,
1991, p. 209).
“Em
Descartes, a natureza era vista como máquina perfeita que funciona sob leis
mecânicas e matemáticas, enquanto o objetivo da ciência era o domínio e o
controle da natureza” (CAPRA, 1987, p. 56)
Diante
desse abrangente horizonte, aconteceram evoluções cientificas significativas, é
como se os protagonistas desse tempo estivessem recém começando a descobrir o
que era de fato o mundo, o ambiente no qual estavam inseridos. As curiosidades
trouxeram significantes descobertas, mas também uma liberdade que mais a frente
veremos, se tornou desenfreada.
RELAÇÃO
HOMEM-NATUREZA DO ILUMINISMO AOS TEMPOS MODERNOS
Nessa
fase da história, embora algumas partes da Europa ainda cultivavam um estilo de
vida econômica baseado no feudalismo, em outra maioria avançava o sistema
capitalista.
Cidade
(2001, p.12) sintetiza nas seguintes palavras a relação homem-natureza a partir
das concepções ideológicas em vigor
O século XVIII
deixou como legado a emergência do capitalismo e a ampliação de sua área de
abrangência, com o aumento da urbanização e a industrialização. Nesse texto, o
pensamento filosófico e científico iluminista levou adiante as propostas da
racionalidade e do método analítico. Paralelamente, a crítica interna e externa
a essas proposições buscou identificar os limites do conhecimento baseado na
razão. Linhas não-hegemônicas, de oposição ao racionalismo positivista, como o
romantismo e a hermenêutica, valorizavam o sentimento e tendiam a ver natureza
e cultura como interligadas. A ênfase no empirismo, principalmente na
Inglaterra, influenciou visões da natureza como externa à dinâmica social e,
portanto, passível de uma exploração cujos limites estariam projetados para um
futuro remoto. As visões deterministas, no entanto, eram bastante marcadas em outros
países, como na França e mesmo na Alemanha. Essa perspectiva influenciou
bastante o pensamento geográfico da época, parte significativa do qual foi
elaborada pelos próprios filósofos. A tendência a considerar o universo um
sistema que funcionaria independente de Deus foi levada a extremos no período
seguinte, por meio do pensamento evolucionista.
A partir de então, nos
aproximamos mais da realidade ambiental vivida hoje. O ano seguinte da história
com o estabelecimento do capitalismo trouxe também um modo de produção
desordenado e a história planetária passou por bruscas e rápidas rupturas em
todo seu sistema.
De acordo com Cascino (1999)
o fim da Idade Média é também marcado pelo fim da produção feudal e o
surgimento da produção industrial, agregado a revoltas políticas burguesas,
descoberta de novos territórios, descobertas cientificas, um tempo de
revoluções no modo de andar, de ver, de produzir, de pensar. Dos feudos
isolados para o surgimento das cidades, fundadas em novas estruturas,
hierarquias, leituras e praticas de poderes.
O mundo passava por mudanças
sociais e econômicas. Nesse processo acontecia o ajuntamento de pessoas
compartilhando um espaço comum e a natureza passa, definitivamente, a ser alvo
de enriquecimento. Outros territórios começam a ser explorados para que mais
riquezas fossem encontradas e comercializadas.
Também surge nesse meio,
pessoas como Darwin, que se interessavam pela pesquisa, com uma visão de
ecologia como ciência. Cascino (1999) relata que Darwin realizou muitas
pesquisas pelo mundo que deram origem a sua obra A Origem das Espécies
publicada no final de 1859. Mentor da teoria evolucionista, segunda a qual
todos os seres vivos desenvolvem-se a partir de sua relação com o meio
ambiente, Darwin inspira olhares poéticos. Surgiram os nomes Ralph Waldo
Emerson e Henry David Thoreau, o primeiro poeta, escritor e conferencista que inspirou
nomes para uma vida equilibrada em contato com a natureza e harmonia com a
essência humana. Junto com Turiúa inspirou gerações de jovens, principalmente
americanos, sendo uma referência do movimento hippie e desobediência civil.
Thoreau foi um símbolo do movimento ambientalista e amor a natureza. Entrava em
conflito com seus vizinhos e administradores públicos onde vivia.
Alguns olhares estavam
atentos as transformações rápidas que vinham acompanhando o capitalismo, e esses
olhares tornaram-se vozes, eram considerados rebeldes ao governo civil, pois
suas idéias de paz e harmonia ambiental eram contra o consumismo desequilibrado
vigente. Essa mesma filosofia inspirou Gandhi que lutava pacificamente, dentre
outras coisas, por uma boa relação com o espaço.
Relata ainda Cascino (1999) que
com a eclosão da primeira guerra mundial (1918) houve uma redefinição dos
territórios e estruturas dos povos e culturas. A guerra marcou o início da
substituição de um modelo de dominação com a introdução de novos valores para
as sociedades. Foi um tempo de revoluções sociais e políticas. Na Rússia o
primeiro governo comunista. Nos estados unidos um acelerado e avassalador
processo de industrialização e na America do sul também começavam processo
migratório, produção industrial.
O período pós guerra trouxe
grandes avanços tecnológicos nos transportes, comunicação, microeletrônica e
ciência. O conceito era dominar o espaço. Aumentava a população urbana e a
organização social ficava cada vez mais desorganizada.
DECADA DE 60: PERIODO
DOS MOVIMENTOS
Cascino
(1999) destaca os diversos movimentos que surgiam na década de 60: hippies,
feminismo, negro (Black Power), pacifismo, liberação sexual e a pílula, drogas
e rock-and-roll, manifestações anti Guerra Fria e a corrida armamentista
nuclear e anti-Vietnã, em que os estudantes clamavam por um planeta mais azul.
Esses
movimentos tentavam resgatar o individuo na massa. O Brasil, que passava pelo
período de Regime Militar, tinha também suas vozes na musica como: Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e outros, bem como mobilizações estudantis e
Paulo Freire com a alfabetização de adultos. Nesse contexto todo era
desenfreado o uso de pesticidas, inseticidas e perda de qualidade de vida.
O
ambientalismo passa também a ser identificado como um movimento daqueles que
buscavam a preservação do meio ambiente. A ecologia, vista até então como
ciência, e baseada apenas na relação homem-natureza, ganha adeptos pela conscientização
maior dessa relação, não focada apenas na natureza, mas em todo o ambiente, e a
integração homem-meio. O mundo estava em grande movimentação e com emergências
de processos de deterioração, o risco atômico originados da produção capitalista
e guerra fria.
O
primeiro grande texto a respeito das questões ambientais e dos limites para o
desenvolvimento humano foi publicado em Roma, em 1968 intitulado os limites do crescimento, esse texto
faz um amplo estudo sobre o consumo e as reservas dos recursos minerais e
naturais e os limites de suporte/capacidade ambiental, ou a capacidade de o
planeta suportar desgastes e crescimento populacional, Cascino (1999).
O
homem se identifica como agente transformador/destruidor da natureza e a
Educação Ambiental surge como proposta para repensar essa relação, buscando em
meio ao caos já instalado, alternativas de desenvolvimento sustentável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olhando
essa retrospectiva histórica, percebe-se que o homem sempre se relacionou com o
meio, mas esse relacionamento muitas vezes se deu de maneira impensável.
Enquanto o homem não se percebe parte do meio, mas apenas dominador, usufruidor
deste, ele o usa desordenadamente. Pensar que tudo um dia poderá acabar é algo
que analisamos hoje por perceber que o crescimento urbano, industrial,
capitalista já ultrapassou os limites que a natureza poderia suportar. Contudo,
ao colocar na balança sustentabilidade e enriquecimento, o homem parece
preferir o enriquecimento. Ainda há vozes que buscam uma relação melhor
compreendida entre homem-natureza, e até que tudo tenha fim, elas sempre
existirão. Mas há um sistema mais forte, que parece não escutar. Os erros históricos
da má relação homem-natureza, acentuados com o capitalismo e a industrialização,
tem desencadeado sérias consequências em nossos dias, e as medidas que hoje
vemos serem anunciadas para melhorar a qualidade de vida no planeta, são na
verdade como um medicamento que prolonga os dias de vida, mas não evitam a
chegada da morte.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
CAPRA, Fritjof. O
Ponto de Mutação; a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São
Paulo: Cultrix, 1987.
CASCINO, Fabio. Educação Ambiental: Principios, Historia,
Formação de Professores. SãoPaulo, Editora: Senac 1999.
CIDADE, Lúcia Cony Faria. Modernidade, visões de mundo,
natureza e geografia no século dezenove. Espaço
e Geografia, Brasília, v. 4, n. 1, 2001. Disponivel em <http://www.geoambiente.ufba.br/Arquivosextras/Textos/Visoesdemundo/VisoesdeNatureza>
acesso em 06 de agosto de 2011.
SAGAN, Carl. Cosmos. New York: Random House Inc.,
1980.
SAHTOURIS, Elisabet. Gaia: Do caos ao cosmos. São Paulo: Interação, 1991.
[1]
Graduando 2º Semestre de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade La Salle,
Lucas do Rio Verde.
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